Cooperativas não aderiram ao App 'táxi.belem'

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Os aumentos sucessivos do preço da gasolina, as despesas para manutenção do aplicativo e a queda no faturamento foram fatores decisivos para que os associados das cooperativas de táxi da Região Metropolitana não aderissem à plataforma lançada pelo Sindicato dos Taxistas de Belém, no final do ano passado. O aplicativo oficial da categoria na capital paraense garante desconto de 30% nos valores das corridas, que é avisado previamente aos usuários a exemplo de outros como Uber e YetGo. Para tentar burlar os números negativos, as cooperativas planejam outras ações como promoções e uso de aplicativos próprios que facilitam a solicitação do serviço, o pagamento e o monitoramento do percurso.

 

O Sindicato informou que a onda de aplicativos de transporte de passageiros causou uma perda de 60% das corridas dos taxistas. Muitos estavam devendo para bancos, entraram em crise e tiveram de vender seus carros. Do total dos taxistas, 43% dos taxistas possuem idade acima de 50 anos e, principalmente os idosos, precisavam de uma alternativa. Por isso, o sindicato decidiu desafiar a concorrência.

 

“Nós tivemos muito prejuízos com essa diminuição no faturamento. É totalmente inviável conceder descontos nas viagens com a crise que passamos. Além disso, tivemos o aumento da gasolina, dos impostos e tributos. A despesa está muito alta. Não podemos pagar para trabalhar. Vamos investir em outras estratégias para abranger mais clientes como promoções, porém, não há como aderir ao app, nem como conceder desconto”, afirmou o Diretor Administrativo da Cooperativa Dos Taxistas da Duque de Caxias (COOPERDUQUE), José Moreira.

 

De acordo com o Diretor da COOPERDUQUE, houve uma perda de 45 a 50% das rendas diária e mensal, o que também levou a uma diminuição do quadro funcional da cooperativa, que já demitiu seis colaboradores desde a chegada dos novos aplicativos.  Em contrapartida, a cooperativa também dispõe de aplicativo próprio no mercado, através do qual é possível visualizar a média do preço a ser cobrado, o deslocamento do veículo até o local de início do percurso, assim como o deslocamento até o destino final.  A Cooperativa dos Motoristas de Táxi da Doca (COOPERDOCA), que também não aderiu ao App 'táxi.belem', possui aplicativo semelhante que ainda permite escolher a forma de pagamento, se no dinheiro ou cartão de crédito.

 

As cooperativas se apoiam no diferencial competitivo de segurança na execução do serviço. “Se eu estiver em mosqueiro e meu filho em Belém, posso solicitar um dos nossos táxis para buscá-lo mesmo de longe, rastreando o carro em todo o percurso. Também pago pelo aplicativo, dependendo do acerto com a Cooperdoca, e tenho a segurança de poder confiar em um empreendimento devidamente regularizado, com muito tempo de mercado, que faz uma vistoria constante nos carros, diferente dos motoristas desses aplicativos que nem regulamentados são”, afirmou o presidente da COOPERDOCA, Ewerson Lobato.

 

Projeto de Lei

 

O projeto que regulamenta os aplicativos de transporte continua parado no Congresso Nacional, apesar de já ter sido aprovado pelo Senado em 2017 com quatro alterações em relação ao texto que havia sido aprovado na Câmara dos Deputados: o fim da obrigatoriedade da placa vermelha, da exigência de que os carros usados sejam de propriedade dos condutores, da necessidade de licença municipal para a atuação dos aplicativos e da restrição territorial para que um carro emplacado em um município possa pegar passageiros em outra região metropolitana. Devido às alterações, o projeto teve que voltar para a Câmara e ainda não entrou na pauta da Casa.

 

Para o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras do Estado do Pará (OCB/PA), Ernandes Raiol, o assunto deve ser o mais rapidamente discutido em âmbito político. “Precisamos de uma definição no sentido de regulamentação da atividade para uma concorrência não desleal, salvaguardando os direitos da categoria. A concorrência é importante para a população ter opções melhores de transporte, forçando até mesmo as cooperativas a se adequarem, mas deve partir de um pressuposto de igualdade de direitos e deveres. Os taxistas não podem continuar pagando devidamente seus impostos enquanto outra categoria trabalha sem qualquer conformidade constitucional”.