Para os povos da floresta amazônica em Gurupá, no Marajó, AWA é mais do que apenas uma palavra, mas a representação de uma essência pulsante da floresta. O “espírito da terra”, que é o significado da expressão, os conecta a cada árvore, rio e criatura. Também é o nome do projeto executado pela Cooperativa Agroextrativista dos Remanescentes de Quilombos Defensores da Floresta de Gurupá (COOPAWA).
Em parceria com a Associação dos Remanescentes de Quilombos das Comunidades do Município de Gurupá (ARQMG), a COOPAWA organiza, planeja e executa projetos que visam tanto o ganho econômico quanto a conservação do meio ambiente, fortalecendo a produção agroextrativista e garantindo investimentos na produção sustentável.
Uma das principais iniciativas da cooperativa é o Projeto AWA, que busca proteger aproximadamente 830 espécies de fauna e 690 espécies de flora, evitando o desmatamento de mil hectares por ano e a emissão de 260 mil toneladas de gás carbônico. A iniciativa abrange 66 mil hectares do território quilombola de Gurupá, com o objetivo de impedir o desmatamento de 38 mil hectares nos próximos 30 anos, evitando a emissão de 8 milhões de toneladas de gás carbônico.
A preservação das áreas é feita a partir da produção sustentável por meio de práticas agrícolas sem uso de fogo, monitoramento para evitar invasões no território e uso de Sistemas Agroflorestais (SAFs). Os modelos de produção combinam árvores, culturas agrícolas e animais em uma mesma área, otimizando a produção e conservando o meio ambiente. Frutas como açaí, cupuaçu e banana, por exemplo, são cultivadas em conjunto com árvores nativas, que fornecem sombra e abrigo para a fauna.
Outros atores importantes são os “Guardiões da Floresta”, que monitoram o território, identificam riscos e garantem que as regras de uso sustentável dos recursos naturais sejam cumpridas. Para isso, os quilombolas estão participando de módulos de capacitação como agentes ambientais comunitários. O treinamento, conduzido por um especialista, aborda temas como Legislação ambiental, Técnicas de abordagem e resolução de conflitos, Uso de tecnologia para monitoramento, Segurança e protocolos de atuação.
Os “Guardiões” utilizam um aplicativo desenvolvido pela Carbonext para registrar ocorrências e fortalecer a proteção do território. A capacitação reforça não apenas a preservação da floresta, mas também a segurança e autonomia da comunidade.
A cooperativa está em processo de organização e busca se posicionar no mercado da venda de carbono, sendo a primeira cooperativa do estado a realizar essa comercialização. Projetos, como o AWA, que reduzem as emissões de gases de efeito estufa da atmosfera geram créditos de carbono. As empresas que excedem seus limites de emissão podem comprar os créditos desses projetos para compensar as próprias emissões em mercados regulados de carbono.
As ações da COOPAWA estão alinhadas com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13, que visa combater a mudança climática e seus impactos. Ao implementar projetos como o AWA, a cooperativa não apenas contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, mas também promove práticas agrícolas sustentáveis que fortalecem a resiliência das comunidades locais às mudanças climáticas. Essas iniciativas demonstram o compromisso da COOPAWA com a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento socioeconômico das comunidades quilombolas de Gurupá.