Sebrae/PA, Cruz Vermelha, CMP e Sistema OCB/PA uniram forças em prol de cooperativas em situação de vulnerabilidade
Ao chegar à cooperativa Concaves, ver aquela senhora gentil e prestimosa já deixa tudo mais acolhedor, com aquele carinho de mãe que conseguiu bancar a casa e os estudos da filha em uma universidade particular. Hoje, aos 66 anos de idade, 5 de cooperativa, Dona Lurdes recebeu uma pequena homenagem nesta quarta (15) por representar a força e a respeito com que a sociedade deve olhar para os idosos.
Hoje, ela cuida do almoço dos cooperados. Ainda não voltou às atividades normais. Ficou afastada por três longos meses. A filha está formada e trabalha em Curitiba. Dona Lurdes, tem a Concaves como uma verdadeira família. “Aqui é muito bom. Já trabalhei em outras cooperativas, na igreja, mas aqui é organizado e vemos a luta de todos. Até a minha filha eles puderam ajudar. Ela fez o estágio aqui na cooperativa de assistência social”, contou.
A singela homenagem foi durante a entrega das cestas básicas e kits de higiene para a cooperativa. Assim como a Concaves, mais três cooperativas receberam os donativos na manhã desta quarta-feira: a Filhos do Sol, da Cocavip e a Cootpa. No total, foram 200 cestas e 200 kits de higiene doados por meio da parceria entre Sistema OCB/PA, Sebrae/PA, Cruz Vermelha do Pará e Central dos Movimentos Populares.
“Nós do cooperativismo jamais fazemos as coisas sozinhos e essa união é a verdadeira força da cooperação. É a primeira vez que fazemos uma campanha como essa e ver toda essa corrente de solidariedade indica que estamos no caminho certo”, explicou Ernandes Raiol, presidente do Sistema OCB/PA.
A ação faz parte da campanha do Sistema OCB/PA, Dia de Cooperar, também conhecido como Dia C, que deste de junho está mobilizando entidades parceiras e sociedade para arrecadar cestas básicas e produtos de higiene para serem doados a cooperativas que estão passando por dificuldades sociais e econômicas severas, a exemplo do segmento reciclagem, um dos mais atingidos neste momento de crise.
“Aqui estamos vendo a ação de fato, a união e a entrega desses produtos. É isso que a sociedade precisa: de ação. O Sistema OCB/PA é um parceiro nesse caminho do desenvolvimento do nosso Estado”, afirmou Rubens Magno, superintendente do Sebrae-PA.
“Essa ação é muito importante para nós porque ainda estamos com dificuldade de voltar ao nosso volume de trabalho. Estamos com quase todos os cooperados trabalhando, mas ainda está complicado”, disse Jorge Ribeiro, presidente da “Filhos do Sol”.
Na Concaves, a situação é semelhante. Em abril, o volume arrecadado foi de 58 toneladas. Em junho, apenas 56. “Já estamos com o funcionamento quase normal, os cooperados estão voltando aos poucos e seguindo todas as recomendações, mas ainda precisamos melhorar esse resultado. Estamos trabalhando em um projeto a aquisição de uma prensa e triturador para plástico para iniciarmos uma nova etapa no processo de reciclagem de plástico”, contou Débora Bahia, presidente da Concaves.
No total, já foram doadas 1.500 cestas nos municípios de Santarém, Xinguara, Parauapebas, Paragominas, Castanhal, Belém e Ananindeua. Na sexta-feira (17), será a vez da Cooperativa de Detentas, Coostafe, receber cestas básicas e kits de higiene doados pela Unimed Belém, que colaborou com a doação de 645 cestas para 16 cooperativas e está doando para 100 municípios medicamentos para tratamento da Covid-19.
“Participamos da campanha do Dia C desde o início por julgar que é um papel nosso, como cooperativa e como membro da sociedade. Tudo realizado com muita sobriedade e com o espírito humanitário”, comentou Antônio Travessa, vice-presidente da Unimed Belém.
Além das cestas
Apesar do momento difícil, da queda da coleta, do preço considerados baixos dos materiais, as cooperativas afirmam – em uníssono – que a ajuda com as doações é essencial, mas o que elas realmente desejam é trabalhar, prover aos cooperados oportunidades de crescimento pessoal, familiar e profissionais. A presidente da Cocavip, Nádia da Luz, ressaltou a necessidade de organização. “É preciso que todos abram os olhos para a realidade da destinação correta de resíduos. Temos uma abundância de matérias primas que podem gerar renda digna a milhares de pessoas, manter uma produção de consumo mais sustentável com a logística reversa. Ora, se uma empresa pode produzir, por exemplo, um pneu, porque ela não fazer os instrumentos de descarte dele?”.
Dados do SEST/ SENAT apontam que aproximadamente 450 mil toneladas de pneus de carros de passeio são descartados todos os anos. Isso equivale a cerca de 90 milhões pneus no Brasil. A região Norte é a líder no tocante ao descarte incorreto dessas matérias primas, respondendo por apenas 3,17%, em 2018, enquanto o Sudeste realiza 56, 83% (Relatório Pneumático 2018).
Entre as hipóteses está a falta de indústrias recicladoras em geral. Na região não existe indústria que recicle qualquer tipo de material. Em regra, os produtos coletados pelas cooperativas são destinados aos mercados de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina.
“Isso nos deixa refém dos preços que eles querem pagar, quando poderíamos verticalizar aqui mesmo e produzir riqueza, esperança e oportunidades para a nossa gente, que gera toneladas de recicláveis por dia”, finalizou a presidente da Cootpa, Noêmia do Nascimento.