Cooperativas de educação mantém aulas durante a pandemia


Em tantos anos de história, nenhum deles foi tão desafiador como 2020 para as cooperativas de educação do Pará, que precisaram se adaptar à nova realidade de isolamento social, restrições e recomendações sanitárias. Todas mantêm suas atividades, mesmo em meio à crise na saúde e na economia.

Foi necessário investir em plataformas digitais para a realização de aulas virtuais, na qualificação de professores que precisaram se adaptar às novas ferramentas de trabalho, além da compra de mais equipamentos. 

Essa foi a saída encontrada pelos 39 cooperados da COOPSÓSTENES – Sociedade Cooperativa de Trabalho em Educação Sóstenes Pereira de Barros, mantenedores do Colégio Batista de Santarém, oeste do Pará.  A escola reúne 578 alunos da educação infantil ao ensino médio.

“Ano passado foi muito difícil, foi tudo novo pra gente. O emocional de todos ficou abalado com perdas e o isolamento; professores com medo, receio do novo, de falar diante das câmeras. O sinal de internet na região também não facilitava as mudanças. Passamos a trabalhar de forma híbrida, com até 30% dos alunos de modo presencial, mediante solicitação dos pais. Um período, também, de incertezas financeiras.”, lembra o presidente da COOPSÓSTENES, Arildo Nogueira. 

Diante desse cenário, o presidente reconhece que graças aos valores do cooperativismo foi possível manter o funcionamento da instituição, ao passo que empresas consolidadas no mesmo segmento tiveram que demitir e fechar as portas.

“Se não fosse o modelo cooperativista, nós também já teríamos fechado as portas, mas nos apoiamos. Não houve demissões de nenhum de nossos 13 funcionários, nos organizamos e passamos por esse momento. Mantivemos o bem-estar do cooperado e o benefício da comunidade. Além de não fecharmos a escola, também disponibilizamos uma psicóloga no colégio para atender pais e alunos. Essa é a relação que o cooperativismo constrói.”, se orgulha.


UNIÃO QUE FORTALECE EM MEIO À CRISE

Ainda em Santarém, outra instituição de ensino que tem buscado se manter em meio às dificuldades é a Escola Cristã Catarina Huber, fundada em 2005 pela cooperativa de mesmo nome.

Antes da pandemia, a escola contava com 160 alunos; hoje, com apenas 88, entre estudantes do Jardim I ao 5º ano do ensino fundamental. A queda refletiu inevitavelmente em complicações financeiras, que foram amenizadas com princípios do cooperativismo. 

“Estamos vivendo um momento muito delicado, pois a pandemia mexeu forte com a nossa estrutura. Quando chegamos ao ponto de pensar em fechar as portas, em assembleia todos deram as mãos para continuarmos, mas cremos que isso vai passar e vamos ver nossas crianças voltando às aulas. Se estivéssemos na CLT isso não seria possível e aí sim íamos fechar de fato a nossa escola. Seria pior para todos.”, afirma Cleoma Pantoja, presidente da cooperativa Catarina Huber.

No sudeste paraense, os 20 cooperados da COOPERIET – Cooperativa do Instituto Educacional de Tucuruí, também sentiram os impactos financeiros da pandemia. Antes do surgimento da Covid-19, o local reunia 150 estudantes entre 2 e 14 anos, da Educação Infantil ao Ensino Fundamental II. Sem a possibilidade de manter aulas presenciais, restou uma média de 100 alunos.

“Perdemos muitos alunos e hoje sofremos as consequências por não termos tido a oportunidade de retornar presencialmente com maior agilidade, como ocorreu em outros municípios. Nossa cooperativa teve que se reinventar. Tivemos que buscar novos meios técnicos, administrativos e pedagógicos para continuar. Nossa equipe de professores teve que treinar muito para reaprender ou até mesmo aprender a lidar com a tecnologia.”, recorda a presidente da COOPERIET, Diosiane Ramos.

A presidente ainda destaca a importância do sistema cooperativista para a sequência da cooperativa, que já existe há dois anos. “O cooperativismo mostrou a importância de trabalhar em equipe. Como liderar uma equipe saindo da realidade CLT e aprendendo a se entender como um SÓCIO/COOPERADO. Colaborador e proprietário são, acima de tudo, responsáveis pelo sucesso da empresa.”, destaca.


NA CONTRAMÃO DA CRISE ECONÔMICA

Enquanto algumas cooperativas sentiram os impactos financeiros com a pandemia, a CEAC – Cooperativa dos Educadores Autônomos de Castanhal, formada por sete escolas, que englobam a Educação Infantil ao 5º ano, não teve prejuízos. Os 25 cooperados foram na contramão da crise econômica.

Desde o surgimento das medidas restritivas, a cooperativa, que já existe há 20 anos, também precisou se adaptar e atuar com até 50% da capacidade de estudantes, além de adaptar o ensino a uma plataforma digital, voltada aos alunos que têm estrutura para acompanhar os estudos de casa.

De acordo com a presidente da CEAC, Kátia Santos, todas as escolas tiveram um aumento no número de alunos, que migraram da rede pública de ensino. “Com a suspensão das aulas nas escolas municipais por tempo indeterminado, alguns pais de alunos procuraram nossas escolas particulares. Não perdemos alunos em 2020 e alguns poucos que até saíram no ano passado, retornaram em 2021. Na cooperativa toda foi assim.”, comemora.

A presidente da cooperativa em Castanhal ainda destaca que o modelo de trabalho cooperativista também foi fundamental para atravessar esse momento.

“Porque nós, enquanto empresa cooperativista, não pagamos encargos trabalhistas. Só assim foi possível manter as escolas em funcionamento. Se fosse uma empresa convencional, os custos seriam muito altos, ainda mais tendo preços de mensalidades mais populares, como é o nosso caso. Eu permaneço no cooperativismo porque eu acredito, é uma visão de futuro. Quando você entende os valores do cooperativismo, você não quer outro modelo de trabalho. Não me vejo fora do sistema."
 

“Eu permaneço no cooperativismo porque eu acredito, é uma visão de futuro. Quando você entende os valores do cooperativismo, você não quer outro modelo de trabalho. Não me vejo fora do sistema.”

(Kátia Santos, presidente da CEAC – Cooperativa dos Educadores Autônomos de Castanhal).

 

COOPERATIVISMO: MODELO SOCIOECONÔMICO QUE TRANSFORMA

Enquanto mais de 15.500 empresas fecharam no ano passado por diversos fatores, sendo o principal deles a pandemia, de acordo com a JUCEPA, as quatro cooperativas mostradas acima são um exemplo de como esse modelo socioeconômico é um diferencial em meio à crise, a qual qualquer empreendedor está sujeito. 

“O movimento cooperativista é capaz de transformar o estado do Pará em um lugar mais justo, feliz, equilibrado, com mais e melhores oportunidades para todos – cooperados e a comunidade. Ser cooperativista é acreditar que juntos somos mais fortes e podemos superar as dificuldades, e o Sistema OCB/PA é a consolidação dessa ideia.”, garante Ernandes Raiol, presidente do Sistema OCB no Pará.

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